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Como pode expressar-se um corpo? Interlocuções entre Filosofia e Dança

Esse projeto deu sequência à pesquisa que vem sendo desenvolvida acerca da expressividade e gestualidade afro-brasileira. Tratar-se-á de uma investigação acerca da corporeidade que, além de mobilizar teses filosóficas sobre esse conceito, mobilizou também os corpos dos participantes. Tudo isso visando uma questão filosófica: como pode um corpo expressar-se? Segundo o filósofo Maurice Merleau-Ponty, em sua obra “A fenomenologia da percepção”, o que reúne minhas experiências visuais, táteis, etc, é um estilo de meus movimentos, uma configuração de meu corpo. Para ele, no lugar de ser comparado ao objeto físico, o corpo deve ser visto como uma obra de arte. Uma obra é única, não existe como o exemplar de um universal, que pode ser repetida desde que dada sua fórmula (ou a regra do conceito). Ela encontra em seu suporte artístico (corpo) o meio de eternizar-se sem, contudo, dele destacar-se. Aliás, ela estará irremediavelmente perdida se a tela ou o texto, por exemplo, não forem conservados. Toda obra de arte existe à maneira de uma coisa e não a maneira de uma verdade. Assim também, o corpo é coisa semovente e em terras diaspóricas como a nossa (quiçá não apenas, quiçá por toda parte), a dança é um estilo de mover-se (de estar no mundo). O estudo das danças populares brasileiras, em especial a chamada “dança afro” em suas mais variadas manifestações, bem como do jogo da capoeira (que também é, entre tantas coisas, uma dança) lança um olhar sobre essas artes/performances do corpo afro-brasileiro para extrair dele, desse corpo que dança, seu modo de ser próprio, como ele estabelece sua síntese. Ele deverá, para ser completo, ser acompanhado de vivências dessas mesmas práticas. Não se pretende, contudo, que a prática confirme a teoria, ou que esta explique aquela, mas sim experimentar uma possível contiguidade entre elas que não é outra senão aquela entre corpo e alma.

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