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Francofonia Afropolitana

A Francofonia Afropolitana é um projeto de extensão realizado no Instituto de Humanidades e Letras, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, no Campus dos Malês (Bahia). O quadro conceitual que fundamenta essa proposta de extensão encontra-se nas reflexões de Achille Mbembe. Em sua obra Sair da grande noite. Ensaio sobre a África descolonizada, o pensador camaronês destaca como "o francês é hoje uma língua no plural", quando pensado no contexto africano. Mais ainda, diz Mbembe, "subestima-se o fato de que, após vários séculos de assimilação progressiva, de apropriação, de reapropriação e de tráficos, o francês acabou por converter-se numa língua africana de pleno direito" (MBEMBE, 2013, p. 103). Além disso, a língua francesa não remete à centralidade que ela possuía no quadro do universalismo europeu, mas ela integra um movimento de descentramento, servindo como meio para a conexão com as realidades e culturas africanas e afro, incluindo a multiplicidade de línguas e de crioulos. Essa reflexão acerca da língua francesa é inseparável do conceito de "afropolitanismo", também de Mbembe. Com ele, o pensador deseja superar a fixação presente em certos discursos acerca da África e do mundo até bem pouco tempo atrás colonizado: o africanismo, o afro-radicalismo e o afrocentrismo, o nativismo. Para superar tais discursos e seus dilemas, Mbembe (2015) propõe a noção de afropolitanismo, para se referir à "circulação de mundos", à "abertura" e ao "entrelaçamento",  ao invés das fronteiras e segregações imobilizantes que o colonialismo produziu através da raça. Para além do discurso sobre "essência" e "natividade", como identidade imutável e original, Mbembe mostra que o continente africano sempre foi um lugar de circulação e de multiplicidade. Primeiramente, ao receber fluxos de povos de outros lugares, vindos da Ásia, da Europa e da Arábia. "Se os Negros-Africanos formam a maioria da população do continente, eles não são nem os únicos habitantes, nem os únicos produtores de arte e de cultura" (Mbembe, 2015, p. 2). Isso caracteriza o continente tanto em sua história pré-colonial quanto cada vez mais na contemporaneidade. Por outro lado, a África constituiu um lugar de partida para diversas partes do mundo. As diásporas jogam um papel decisivo nessa dispersão. Assim, a África sempre efetuou dois movimentos: imersão e dispersão, movimento centrífugo e centrípeto. Não é somente uma parte da história plural da África que se encontra espalhada pelo mundo. Há também uma história do mundo de que a África é depositária. Essas circulação de mundos, que caracterizou o continente no passado, é mais presente do que nunca e Mbembe a designa com o termo afropolitanismo. Com ele, o filósofo camaronês define uma "cultura transnacional" contra o "câncer do nativismo" e diferente do panafricanismo que promovia uma solidariedade negra, mas difícil de sustentar de modo exclusivo "a partir do momento em que África desperta sob as figuras do múltiplo (inclusive o múltiplo racial) que são constitutivas de suas identidades". Por fim, o "afropolitanismo" expressa "a consciência dessa imbricação entre o aqui e o alhures", a "presença do alhures no aqui e vice-versa", a "relativização das raízes e dos pertencimentos primários e dessa maneira de abraçar, com conhecimento de causa, o estranho, o estrangeiro e o longínquo", "essa capacidade de reconhecer sua face no rosto do estrangeiro" (MBEMBE, 2015, p. 2). É nesse contexto afirmativo de uma África imbricada com o mundo que a lusofonia e a francofonia ganham muito em intercambiar culturalmente, em servir como meios para promover transações teóricas e conexões com culturas e línguas africanas e afro. A execução desse projeto deve contribuir para a circulação de mundos, de saberes e de formas de vida, estabelecendo conexões entre os universos da lusofonia e da francofonia, no contexto de sua conexão aos espaços de culturas e pensamentos africanos e afro.

A Francofonia Afropolitana assenta-se, por fim, sobre a prática efetiva do tripé ensino-pesquisa-extensão. No que se refere à extensão, o projeto visa atingir tanto a comunidade interna quanto a comunidade externa interessadas na iniciação a esse idioma, através da oferta de um curso semestral de iniciação à Língua Francesa, contemplando a introdução à gramática e a prática da conversação (para iniciantes), bem como o estudo da francofonia e seu descentramento no universo afropolitano. A articulação com a pesquisa e o ensino se dá através da ação Oficina de Tradução do Grupo de Pesquisa Geofilosofia e Performances de Pensamento, onde são realizadas traduções de pensadores contemporâneos do espaço africano e afro, permitindo difusão da produção de saberes no espaço da francofonia afropolitana. Já a articulação com o Ensino deve se dar em diferentes contextos de formação, sobretudo nos cursos de Bacharelado em Humanidades, através da publicação e disponibilização de textos traduzidos no âmbito da Oficina de Tradução nas disciplinas de Filosofia Africana, Filosofia Africana Pós-Colonial, Da Teoria Pós-Colonial ao Descolonial: uma perspectiva interdisciplinar sobre o mundo contemporâneo, tornando possível trabalhar diretamente com a produção de pensadores africanos e afro de expressão francófona acerca de temas contemporâneos.

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