O presente projeto de pesquisa pretende investigar a formação de coleções etnográficas de dois museus situados em contextos e períodos específicos: os objetos religiosos de matriz afro-brasileira da coleção “Sertanejo” do Museu Paulista, entre as décadas de 1910 e 1950, e a coleção de “Artefatos Indígenas” do Museu de Nampula, em Moçambique, entre as décadas de 1950 e 1970. Na leitura em contraponto aqui proposta, considera-se que o Estado e seus aparatos ideológicos têm implicações diretas no campo da cultura, como na apropriação e circulação dos “objetos dos outros” (STOCKING JR., 1985). No caso em questão, os artefatos da população negra no Brasil pós-abolição e da população makonde de Moçambique colonial. Muitos dos objetos religiosos apreendidos no referido contexto político brasileiro formaram coleções doadas por instituições policiais a pesquisadores e instituições museológicas, como é o caso de parte da coleção “Sertanejo” do Museu Paulista. Já no contexto de Moçambique colonial, cabe destacar que a revogação do Acto Colonial, em 1951, envolveu um esforço fracassado de implementação de uma política assimilacionista que integrava estudos sobre a cultura das populações locais por meio da coleta de seus artefatos. Dessa forma, interessa ao presente estudo a relação entre formação de coleções, contexto institucional, trajetórias intelectuais e regimes políticos. No âmbito da coleção “Sertanejo”, a pesquisa se debruçará sobre (1) a documentação reunida em estudo realizado entre julho e setembro de 2017 pelo Edital de Pesquisa em Acervos da USP, (2) a documentação a ser consultada no Arquivo Público do Estado da Bahia e (3) os objetos religiosos afro-brasileiros já fotografados. Em contraponto à pesquisa sobre esta coleção, o estudo se voltará para a documentação referente ao Museu de Nampula, reunida no Arquivo Histórico de Moçambique durante a investigação de doutorado também realizada pela proponente